Casa do Horizonte / Jesús Aparicio Estudio de Arquitectura

Só depois de se escolher onde construir uma casa que se está consciente da importância substancial em decidir onde deve ser implantada a arquitetura.

O terreno possuía numerosas possibilidades, mas o genius loci sussurrou ao arquiteto que a casa deveria se estabelecer em um ponto. Um lugar tranquilo, com a distância suficiente à cidade para que a residência tivesse a mesma condição de uma vila. A distância necessária para a reclusão da casa faz com que a casa reúna as condições de vila em relação às cidades de Salamanca e Madrid.

© Roland Halbe

O lugar onde a casa é assentada é a parte mais alta de uma colina, suave desde sua ladeira norte e que recai com maior desnível ao sul, para o planalto, em uma paisagem plana e infinita. A residência sempre buscou apropriar-se deste horizonte distante, presenteando os moradores.

© Roland Halbe

A topografia, a biologia e a orientação constituem uma parte extremamente importante do espaço da arquitetura – daí a importância da escolha do lugar – e estes são considerados no projeto. Seu acesso desde a estrada mais próxima se dá através de um caminho em pedras, de trânsito lento e difícil, que serpenteia através de um bosque de carvalhos, com uma luz sobre ele que marca uma distância de 700 metros de comprimento. Quando se chega à parte superior da colina, há uma área rochosa para observar-se a elevação, no lado norte, tornando o lado sul em um promontório com vista para o planalto.

© Roland Halbe

O projeto trata de enfatizar estes espaços encontrados no lugar para torná-los habitáveis em uma casa que observa o horizonte distante. A residência, portanto, tem duas escalas: uma menor e fragmentada em seu lado norte, leste e oeste, onde o bosque de carvalhos a circunda e outra maior ante a presença absoluta do horizonte infinito do planalto.

O acesso à casa realiza-se através de uma plataforma que constrói um limite que une a privacidade da habitação e o campo que a rodeia, ao conectar a floresta vizinha de carvalhos distante com o platô. Trata-se, portanto, de estabelecer uma segunda escala com a plataforma, que tem a função de ser o limite da casa, similar ao que é sobre a paisagem. Coerentemente com a posição ambivalente da plataforma, nela se superpõem o natural e o artificial: as árvores, a água e as rochas misturam-se com o volume em concreto. Pode-se apontar outra das características desta casa: procura a união controlada da natureza indescritível e o artifício previsível e abstrato da arquitetura.

Planta

A casa apresenta uma dupla construção: uma parte perene, construída para durar – a firmitas –  em um edifício pertencente a implementação primitiva e a estrutura em concreto, pedra e aço e do outro lado, uma parte mais efêmera e técnica (onde os materiais são de vidro, telha de aço e madeira), – utilitas –  construída para avançar com os tempos que dá resposta específica para as funções e instalações.

© Roland Halbe

A casa desenvolve-se longitudinal e perpendicularmente no horizonte, as suas estruturas portantes verticais são realizadas com paredes estruturais de concreto ciclópico, com exceção da curva sul, onde o espaço se abre até alcançar na sala de estar uma paisagem aberta, horizontal e total sobre o planalto de Castilla, com a inserção de quatro pilares cruciformes metálicos. Sobre esta base apoia-se uma laje de concreto armado de 10,50 x 43m. Voltando aos materiais, procurou-se que estes pertencessem ao local e tivessem um caráter duradouro. Para este fim, as rochas da escavação foram utilizadas na fabricação do concreto.

O resultado edificado é uma parte baixa e sólida, ligada ao terreno, pertencendo a ele. Um volume pétreo, desenhado em suas bordas e com as partes intermediárias desfocadas. A textura rugosa das paredes faz com que a natureza a reconheça como algo próprio, facilitando que os liquens, os musgos e as plantas do lugar se prendam a ele. Estas paredes verticais são recipientes de terra, volumes cheios de cascalho de uma pedreira situada a poucos metros, construindo um pasto novo, fazendo com que a casa tenha uma dupla sintonia: próxima à natureza e ao horizonte distante do sul. Neste volume, apoia-se a laje do telhado, que é uma cobertura de neve e chuva que construa a sombra necessária para a casa para ser útil e bonita.

© Roland Halbe

Disse o filósofo que um espaço é um habitáculo conformado por seus limites, e um limite não é o que limita algo, mas o lugar onde as coisas começam a ter presença. Como leitura do anterior, no espaço arquitetônico da casa, pode-se estabelecer uma relação entre o limite e a continuidade do espaço e a borda e a descontinuidade do mesmo. A casa, ainda que seja um lugar em que se enquadram elementos de natureza controlada, sobretudo é o lugar onde o horizonte começa a sua presença: a casa do horizonte.

© Roland Halbe

Ficha técnica:

Equipe:

Arquitetos: Jesús Aparicio Estudio de Arquitectura
Equipe de Projeto: Jesús María Aparicio Guisado

 

Informação Complementar:

Colaboradores: Carlos Pesqueira Calvo, Jesús Donaire García de la Mora, Artemio Fochs Navarro, Carlos García Fernández

Localização: Salamanca, Espanha
Ano Projeto: 2006
Fotógrafo: Roland Halbe

Sobre este escritório
Cita: Eduardo Souza. "Casa do Horizonte / Jesús Aparicio Estudio de Arquitectura" 06 Nov 2012. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/01-79043/casa-do-horizonte-jesus-aparicio-estudio-de-arquitectura> ISSN 0719-8906

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